Eis uma historinha, vadios. Lenita não gostava mais do marido Eugênio. Dizia que queria se separar, e ele, por sua vez, dizia que se ela o fizesse a mataria e depois meteria uma bala na cabeça. Lenita estava contra o seu tempo, e, por motivos próprios, não queria mais viver com o pai de seu filho; buscava apoio na sua família tradicional e católica, mas esta não aceitaria uma separação, essa chaga! A dignidade de seus pais não resistiria. Uns diziam que a nossa jovem estava tendo um caso; outros testemunhos relatavam Eugênio bêbado em frente à casa dos sogros gritando pelo nome da amada que, por seus motivos, decidira ali dormir com o filho, Juliano, nessa noite. Amigos aconselhavam os pais de Lenita a tirarem ela da cidade, devido às constantes ameaças do marido, mas eles se mostravam relutantes. Certo dia, Lenita estava a ler um livro numa cadeira de balanço, no quintal da casa desses que, supostamente, colocaram-na no mundo para amarem e protegerem. Eugênio entra na residência, cumprimenta a todos, faz carinho no filho que estava brincando com a tia Luciana, e ao adentrar no quintal dispara seis tiros na esposa, que morre serenamente. Teresa, sua mãe, chega no momento e tenta em vão balbuciar algo, enquanto Eugênio estoura os próprios miolos. Luciana, ao ouvir os tiros, sai com Juliano nos braços rumo á casa de uma tia que mora próximo. Sua prima Lívia estava balançando o seu bebê numa rede quando Luciana chegou; acolheu-a como pôde. Lívia era uma mãe solteira, que durante a gravidez era impedida pela família de aparecer demais publicamente mostrando o barrigão com um filho sem pai; chegou a sofrer ameaças de uma surra por parte do irmão, o qual não suportava esse estigma na família. Dona Josefina e seu Pedro, pais de Lenita, viveriam com a culpa pelo resto da vida. As irmãs da falecida, diziam alguns, em plena década de 1990, e com mais de 30 anos, ainda namoravam escondidas, pois não poderiam dar desgostos a seus progenitores, vivendo sua sexualidade fora do sagrado matrimônio. FIM.
Bem, amigos, eis uma opinião. Enquanto não houver um anarquismo “sentimental”, que desvencilhe o amor, o desejo e a sexualidade, das limitações imposta pela linguagem (idéia de relacionamento, namoro, casamento) e não houver uma educação dos sentimentos desde a infância, a fim de eliminar alguns instintos (típicos do ser humano, que não é perfeito), e, dessa maneira, fazer com que o indivíduo perceba e diferencie, em si e no outro, o que é Amor e o que são os cumprimentos de normas sociais e religiosas, de interesses mesquinhos (apoiados quase sempre pela família), continuará havendo as desilusões amorosas, adultérios, sujeitos (as) aniquilados, varados de loucura, matando e suicidando-se por desiludirem-se e verem até que ponto o “ser amado” é capaz de ir, às vezes, ao perceber a mentira que se meteu e querer viver fora dela.
“Durante a festa de casamento, após matar a noiva, um amigo do casal e ferir uma terceira pessoa, o assistente de vendas Rogério Damascena disparou contra a própria cabeça” (Noticiários, em dezembro de 2010)